terça-feira, 17 de julho de 2012

Entrevistámos a Adriana, designer de Miga de Pan



Entrevistámos a argentina Adriana Torres, apaixonada pelo bordado e designer de Miga de Pan, uma marca de acessórios de croché com muita projeção internacional. Perguntámos-lhe pelas suas origens, projetos futuros e preocupações. É realmente inspirador!


Adriana a bordar.

Quando e porquê começaste a bordar? És autodidata?
Em meados do ano 2008 comecei o curso de bordado de Guillermina Baiguera em Formosa, Buenos Aires, ao qual continuo a ir uma vez por semana com o grupo que se formou naquele ano. Tornámo-nos muito amigas e empreendemos alguns projectos juntas sob o nome de Rita Smirna. Há já algum tempo que andava a experimentar têxteis, tinha comprado uma máquina de costura Janome (Na costura, sim, sou autodidacta!) e bordava os primeiros bonecos de forma intuitiva.


Comecei o curso, porque queria que os meus bonecos fossem bordados. Acabava de começar o que mais tarde viria a ser a Miga de Pan.
Sou autodidata em muitas coisas, mas no bordado não. Quando comecei o curso pensei que ia só um mês para experimentar, porque não acreditava que ia ter tanta paciência. Também não fazia ideia que existiam tantos pontos de bordado para aprender! Não imaginava a importância que o bordado teria na minha vida! Desde que comecei a bordar já não consegui parar e sei que vou bordar para sempre. Descobri uma técnica que me fascina e que inclusivamente influenciou a minha maneira de desenhar.



Bordado feito pelo grupo de bordadeiras Rita Smirna.

Muitas vezes dou-me conta que estou a desenhar uma textura que é um ponto de bordado! Uma amiga, a Leonor, disse-me uma vez que sentia que numa vida passada teria sido tecedora de croché. Eu sinto que fui bordadeira em alguma vida passada.
Com as técnicas tradicionais de desenho, como o acrílico, aguarelas, lápis, colagem, muitas vezes bloqueio ou não adoro o que faço. Com o bordado sinto-me livre, sinto que não tenho limites para além do tempo.

Desenvolveste uma coleção de produtos de croché que vendes em todo o mundo, os teus bordados também são comercializados?
Os bordados vendo-os ou troco por obras de outros artistas que admiro. Estou a elaborar uma coleção muito bonita e inspiradora. Quase não tenho bordados meus, alguns também ofereci. Prefiro que estejam na mão de gente que os aprecia e disfruta em vez de estarem guardados numa gaveta.


 Bordado feito pelo grupo de bordadeiras Rita Smirna.

Os que fiz para a primeira exposição em Formosa, que bordei quando estava grávida de Felicitas, estão pendurados no seu quarto, porque foram feitos para ela. Do resto desfiz-me.

Há alguma técnica que gostarias de aprender?
Adorava aprender macramé e tecelagem, quando tiver algum tempo. Também me atrai o frivolité, mas não creio que tenha paciência suficiente para o aprender.
Arranjei um livro antigo das máquinas de coser Singer, que ensina como bordar à máquina usando o bastidor. Também quero experimentar algumas coisas com a máquina, mas parece-me muito difícil...É incrível as coisas que as mulheres faziam!


Gostava de usar a agulha mágica como vejo as raparigas espanholas fazer, mas em Buenos Aires não a consegui arranjar, procurei em alguma as retrosarias, mas ninguém a conhece.
Para além das técnicas têxteis há muito tempo que quero aprender cerâmica. Um dos projetos em que estou a trabalhar combina têxtil com cerâmica, por essa razão estou a tirar um curso para poder levar este projeto a avante, mas também porque adoro trabalhar com materiais destintos.
Desde muito nova que sonho ter em minha casa uma vasilha feita por mim. Bem, acho que chegou o momento.


Qual é o teu próximo projeto?
Um dos projetos, em que estou a trabalhar, comecei em meados de 2007, fazendo protótipos de uma ideia que tinha há já alguns anos. Fiz uma viagem à Bolívia em Janeiro de 2008 para recolher informação, materiais e inspiração. Depois de uma pausa de 3 anos estou a trabalhar novamente nele para o lançar este ano.


Também estou a trabalhar numa nova marca de produtos ecológicos, uma linha de objetos feitos com restos da indústria têxtil e outra de tecidos com linhas orgânicas. O projeto chama-se ÁRBOL. Por agora são objetos realizados em croché com ourelas de camisolas de algodão. E encho os bonecos com os recortes que as empresas cortam e deitam fora. Ainda não o lancei oficialmente, estou a trabalhar na embalagem, nas etiquetas e a desenvolver alguns produtos mais. No entanto um produto (um leão de 60 cm de altura) já foi selecionado para um Festival de Desenho em Buenos Aires (Inspiration Fest) em Novembro de 2011, para uma exposição de desenho industrial, onde são apresentados os trabalhos dos designers mais conhecidos da cena actual de Buenos Aires.
Bem, em paralelo estou a trabalhar noutros projetos, como por exemplo um conto infantil ilustrado com bordados. Mas esse está mais lento, ainda estou a esboçá-lo, não acredito que o acabe este ano.


Como é um dia de trabalho normal em Miga de Pan?
Vivemos numa casa grande, no rés-do-chão é a casa em si e no piso superior é o meu estúdio.
Depois de preparar a Felicitas para a creche, onde a deixa o pai, faço meia hora de meditação, a seguir tomo o pequeno-almoço e sento-me ao computador a responder a emails. A meio da manhã atendo alguma tecelã, elaboro algum protótipo, esboço algum produto novo ou vou comprar linhas. Às vezes vou ao banco e aproveito para ir aos correios fazer alguns envios. Ao correio costumo ir uma vez por semana.


Ao meio dia estou com a Felicitas que volta da escola e estamos juntas até às 15h, quando chega uma rapariga para tomar conta dela e eu continuo a trabalhar. Continuo a responder aos emails (Sim, são muitos!).
Nalgumas tardes tiro fotografias ou coloco-as no blogue ou no facebook. Outras trabalho em alguns dos novos projectos ou vou aos cursos de desenho ou de cerâmica.
Às sextas-feiras juntamo-nos na Formosa com as raparigas para bordar, bom, mas isso já não é a Miga de Pan…


Falemos do projecto Bosque!
Bosque é uma colecção formada principalmente por pufes e almofadões inspirados na natureza e realizados em croché. São troncos para sentar, brincar ou descansar.


Com esta coleção fui selecionada pela Ministério dos Negócios Estrangeiros Argentino e a seguir pelo júri da 100% Design London para fazer parte do pavilhão argentino juntamente com outros 6 designers, representando o meu país em Setembro de 2011.


Vou vos dar uma notícia em primeira mão (na Argentina ainda não o dei a conhecer porque estou à espera do lançamento oficial), acabo de assinar um contrato com uma companhia italiana que vai produzir e comercializar esta coleção em mais de 40 países de todo o mundo. Esta colaboração é um êxito na minha carreira profissional que me abre as portas do design industrial internacional.
Tenho de confessar que isto é muito mais do que alguma vez pude sonhar!

Adriana, estamos impressionados com a tua criatividade e o teu trabalho, esperamos ver em breve a tua coleção Bosque em Portugal. Se quiser ver todo o seu trabalho, recomendamos uma visita ao seu site.


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