Entrevistámos a argentina Adriana Torres, apaixonada pelo
bordado e designer de Miga de Pan, uma marca de acessórios de croché com muita
projeção internacional. Perguntámos-lhe pelas suas origens, projetos futuros e preocupações.
É realmente inspirador!
Adriana a bordar.
Quando e porquê
começaste a bordar? És autodidata?
Em meados do ano 2008 comecei o curso de bordado de
Guillermina Baiguera em Formosa, Buenos Aires, ao qual continuo a ir uma vez por
semana com o grupo que se formou naquele ano. Tornámo-nos muito amigas e
empreendemos alguns projectos juntas sob o nome de Rita Smirna. Há já algum
tempo que andava a experimentar têxteis, tinha comprado uma máquina de costura
Janome (Na costura, sim, sou autodidacta!) e bordava os primeiros bonecos de
forma intuitiva.
Comecei o curso, porque queria que os meus bonecos fossem
bordados. Acabava de começar o que mais tarde viria a ser a Miga de Pan.
Sou autodidata em muitas coisas, mas no bordado não. Quando
comecei o curso pensei que ia só um mês para experimentar, porque não
acreditava que ia ter tanta paciência. Também não fazia ideia que existiam
tantos pontos de bordado para aprender! Não imaginava a importância que o
bordado teria na minha vida! Desde que comecei a bordar já não consegui parar e
sei que vou bordar para sempre. Descobri uma técnica que me fascina e que inclusivamente
influenciou a minha maneira de desenhar.
Bordado feito pelo grupo de bordadeiras Rita Smirna.
Muitas vezes dou-me conta que estou a desenhar uma textura
que é um ponto de bordado! Uma amiga, a Leonor, disse-me uma vez que sentia que
numa vida passada teria sido tecedora de croché. Eu sinto que fui bordadeira em
alguma vida passada.
Com as técnicas tradicionais de desenho, como o acrílico,
aguarelas, lápis, colagem, muitas vezes bloqueio ou não adoro o que faço. Com o
bordado sinto-me livre, sinto que não tenho limites para além do tempo.
Desenvolveste uma
coleção de produtos de croché que vendes em todo o mundo, os teus bordados
também são comercializados?
Os bordados vendo-os ou troco por obras de outros artistas
que admiro. Estou a elaborar uma coleção muito bonita e inspiradora. Quase não
tenho bordados meus, alguns também ofereci. Prefiro que estejam na mão de gente
que os aprecia e disfruta em vez de estarem guardados numa gaveta.
Bordado feito pelo grupo de bordadeiras Rita Smirna.
Os que fiz para a primeira exposição em Formosa, que bordei quando
estava grávida de Felicitas, estão pendurados no seu quarto, porque foram
feitos para ela. Do resto desfiz-me.
Há alguma técnica que
gostarias de aprender?
Adorava aprender macramé e tecelagem, quando tiver algum tempo.
Também me atrai o frivolité, mas não creio que tenha paciência suficiente para
o aprender.
Arranjei um livro antigo das máquinas de coser Singer, que
ensina como bordar à máquina usando o bastidor. Também quero experimentar
algumas coisas com a máquina, mas parece-me muito difícil...É incrível as
coisas que as mulheres faziam!
Gostava de usar a agulha mágica como vejo as raparigas
espanholas fazer, mas em Buenos Aires não a consegui arranjar, procurei em
alguma as retrosarias, mas ninguém a conhece.
Para além das técnicas têxteis há muito tempo que quero aprender
cerâmica. Um dos projetos em que estou a trabalhar combina têxtil com cerâmica,
por essa razão estou a tirar um curso para poder levar este projeto a avante,
mas também porque adoro trabalhar com materiais destintos.
Desde muito nova que sonho ter em minha casa uma vasilha
feita por mim. Bem, acho que chegou o momento.
Qual é o teu próximo
projeto?
Um dos projetos, em que estou a trabalhar, comecei em meados
de 2007, fazendo protótipos de uma ideia que tinha há já alguns anos. Fiz uma
viagem à Bolívia em Janeiro de 2008 para recolher informação, materiais e
inspiração. Depois de uma pausa de 3 anos estou a trabalhar novamente nele para
o lançar este ano.
Também estou a trabalhar numa nova marca de produtos
ecológicos, uma linha de objetos feitos com restos da indústria têxtil e outra
de tecidos com linhas orgânicas. O projeto chama-se ÁRBOL. Por agora são objetos
realizados em croché com ourelas de camisolas de algodão. E encho os bonecos
com os recortes que as empresas cortam e deitam fora. Ainda não o lancei
oficialmente, estou a trabalhar na embalagem, nas etiquetas e a desenvolver alguns
produtos mais. No entanto um produto (um leão de 60 cm de altura) já foi selecionado
para um Festival de Desenho em Buenos Aires (Inspiration Fest) em Novembro de
2011, para uma exposição de desenho industrial, onde são apresentados os trabalhos
dos designers mais conhecidos da cena actual de Buenos Aires.
Bem, em paralelo estou a trabalhar noutros projetos, como
por exemplo um conto infantil ilustrado com bordados. Mas esse está mais lento,
ainda estou a esboçá-lo, não acredito que o acabe este ano.
Como é um dia de
trabalho normal em Miga de Pan?
Vivemos numa casa grande, no rés-do-chão é a casa em si e no
piso superior é o meu estúdio.
Depois de preparar a Felicitas para a creche, onde a deixa o
pai, faço meia hora de meditação, a seguir tomo o pequeno-almoço e sento-me ao
computador a responder a emails. A meio da manhã atendo alguma tecelã, elaboro
algum protótipo, esboço algum produto novo ou vou comprar linhas. Às vezes vou
ao banco e aproveito para ir aos correios fazer alguns envios. Ao correio costumo ir uma vez
por semana.
Ao meio dia estou com a Felicitas que volta da escola e
estamos juntas até às 15h, quando chega uma rapariga para tomar conta dela e eu
continuo a trabalhar. Continuo a responder aos emails (Sim, são muitos!).
Nalgumas tardes tiro fotografias ou coloco-as no blogue ou
no facebook. Outras trabalho em alguns dos novos projectos ou vou aos cursos de
desenho ou de cerâmica.
Às sextas-feiras juntamo-nos na Formosa com as raparigas
para bordar, bom, mas isso já não é a Miga de Pan…
Falemos do projecto
Bosque!
Bosque é uma colecção formada principalmente por pufes e
almofadões inspirados na natureza e realizados em croché. São troncos para sentar,
brincar ou descansar.
Com esta coleção fui selecionada pela Ministério dos
Negócios Estrangeiros Argentino e a seguir pelo júri da 100% Design London para
fazer parte do pavilhão argentino juntamente com outros 6 designers, representando
o meu país em Setembro de 2011.
Vou vos dar uma notícia em primeira mão (na Argentina ainda não
o dei a conhecer porque estou à espera do lançamento oficial), acabo de assinar
um contrato com uma companhia italiana que vai produzir e comercializar esta
coleção em mais de 40 países de todo o mundo. Esta colaboração é um êxito na
minha carreira profissional que me abre as portas do design industrial
internacional.
Tenho de confessar que isto é muito mais do que alguma vez
pude sonhar!
Adriana, estamos impressionados com a tua criatividade e o
teu trabalho, esperamos ver em breve a tua coleção Bosque em Portugal. Se
quiser ver todo o seu trabalho, recomendamos uma visita ao seu site.
Parabéns Adriana:)
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