Já vimos bordados sobre tecido, papel, madeira ou metal,
mas nunca sobre plantas. Entrevistámos a Hillary Waters, uma artista inglesa
que borda sobre folhas.
Quando
começaste a bordar e como aprendeste?
Desde pequena que sempre gostei de fazer coisas.
Lembro-me que fazia a roupa para as minhas bonecas, alfineteiras, pequenos
bordados para a minha mãe... Sempre tive interesse por costura e bordado e por
isso estudei Design Têxtil na universidade. Durante um semestre estudei também
bordado em Manchester e aí começou o meu verdadeiro fascínio pelo bordado.
Quando
começaste a bordar sobre folhas e elementos da natureza?
Sinceramente comecei a fazê-lo antes de me dar
conta do que realmente estava a fazer. Comecei a bordar usando folhas, porque
gosto de bordar e de todas as coisas do mundo vegetal. Sempre fui completamente
apaixonada pela natureza e pelo ar livre. Como já disse, estudei bordado em
Inglaterra e fiquei totalmente fascinada com as técnicas e os processos que
aprendi. Quando voltei a casa trabalhei como educadora ambiental num
acampamento de verão, que é um trabalho que fiz durante muitos anos. Foi aí que
começou o meu amor pela natureza. Um dia à tarde tinha umas horas livres, vi uma
árvore linda e comecei a pensar se seria capaz de usar as minhas habilidades e
bordar umas folhas. Experimentei e funcionou! Ao princípio não ficou perfeito,
mas funcionou!
Quando pensei mais profundamente no que estava a
fazer, a conexão foi muito evidente. Fascina-me aplicar estas técnicas manuais
antigas em algo tão frágil e totalmente natural. Trabalhar dentro dos limites
do mundo natural é completamente possível e pode dar excelentes resultados, mas
é necessário que haja uma consciência e um sentido de respeito e compreensão.
Que tipo de
fios costumas usar?
Gosto de usar o que tenho à mão, normalmente um
cabo duma meada, mas às vezes isso é demasiado grosso e necessito dum ainda
mais fino. Neste momento tenho uma bonita seleção de fios tingidos à mão, uma
mistura de algodão e fibras sintéticas, mas normalmente prefiro trabalhar com
fio de algodão.
Como
escolhes os suportes para bordar?
Escolho
objetos que sejam bonitos ou interessantes... Devem ter um significado especial
ou algum motivo em particular que os tenha feito chegar às minhas mãos. Essas
coisas são importantes para mim, penso que isto influencia o modo como utilizo
as peças. O que faço é realçar os detalhes. É perceber os ciclos e as conexões.
Trata-se de ver um objeto familiar de outra maneira. Há uma profundidade e uma
importância em tudo o que está presente e também no que está ausente. Há
narrativas invisíveis, que se tecem ao redor de cada peça, de cada interação.
Sinto-me como um cartógrafo, desenhando e traçando um mapa imaginário, dum
objeto ao outro, interagindo com cada um.
Escolhes os
pontos baseando-te no objeto em que vais bordar ou como é o teu processo de
trabalho?
É diferente para cada folha ou objeto... Algumas
folhas aguentam mais pontos que outras, pelo que nunca é a mesma coisa. Também
há folhas que estão mais secas e isso também afeta a maneira como trabalho com
elas. Primeiro observo o objeto e penso como quero interagir com ele, depois
experimento e se não funciona, experimento outra coisa diferente. Quase nunca
tenho um plano quando começo a trabalhar e quase sempre vou modificando e
ajustando as coisas enquanto trabalho.
Tens alguma
recomendação para bordar sobre materiais orgânicos?
Trata-se sobretudo de experimentar e da fina linha
que há entre poder fazer o que queres numa estrutura orgânica e a destruir ou
estragar.
Obrigada Hillary por nos falares sobre o teu
trabalho!
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