sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Entrevista a Hillary Waters: bordado em folhas


Já vimos bordados sobre tecido, papel, madeira ou metal, mas nunca sobre plantas. Entrevistámos a Hillary Waters, uma artista inglesa que borda sobre folhas.


Quando começaste a bordar e como aprendeste?
Desde pequena que sempre gostei de fazer coisas. Lembro-me que fazia a roupa para as minhas bonecas, alfineteiras, pequenos bordados para a minha mãe... Sempre tive interesse por costura e bordado e por isso estudei Design Têxtil na universidade. Durante um semestre estudei também bordado em Manchester e aí começou o meu verdadeiro fascínio pelo bordado.


Quando começaste a bordar sobre folhas e elementos da natureza?
Sinceramente comecei a fazê-lo antes de me dar conta do que realmente estava a fazer. Comecei a bordar usando folhas, porque gosto de bordar e de todas as coisas do mundo vegetal. Sempre fui completamente apaixonada pela natureza e pelo ar livre. Como já disse, estudei bordado em Inglaterra e fiquei totalmente fascinada com as técnicas e os processos que aprendi. Quando voltei a casa trabalhei como educadora ambiental num acampamento de verão, que é um trabalho que fiz durante muitos anos. Foi aí que começou o meu amor pela natureza. Um dia à tarde tinha umas horas livres, vi uma árvore linda e comecei a pensar se seria capaz de usar as minhas habilidades e bordar umas folhas. Experimentei e funcionou! Ao princípio não ficou perfeito, mas funcionou!


Quando pensei mais profundamente no que estava a fazer, a conexão foi muito evidente. Fascina-me aplicar estas técnicas manuais antigas em algo tão frágil e totalmente natural. Trabalhar dentro dos limites do mundo natural é completamente possível e pode dar excelentes resultados, mas é necessário que haja uma consciência e um sentido de respeito e compreensão.


Que tipo de fios costumas usar?
Gosto de usar o que tenho à mão, normalmente um cabo duma meada, mas às vezes isso é demasiado grosso e necessito dum ainda mais fino. Neste momento tenho uma bonita seleção de fios tingidos à mão, uma mistura de algodão e fibras sintéticas, mas normalmente prefiro trabalhar com fio de algodão.


Como escolhes os suportes para bordar?
 Escolho objetos que sejam bonitos ou interessantes... Devem ter um significado especial ou algum motivo em particular que os tenha feito chegar às minhas mãos. Essas coisas são importantes para mim, penso que isto influencia o modo como utilizo as peças. O que faço é realçar os detalhes. É perceber os ciclos e as conexões. Trata-se de ver um objeto familiar de outra maneira. Há uma profundidade e uma importância em tudo o que está presente e também no que está ausente. Há narrativas invisíveis, que se tecem ao redor de cada peça, de cada interação. Sinto-me como um cartógrafo, desenhando e traçando um mapa imaginário, dum objeto ao outro, interagindo com cada um. 


Escolhes os pontos baseando-te no objeto em que vais bordar ou como é o teu processo de trabalho?
É diferente para cada folha ou objeto... Algumas folhas aguentam mais pontos que outras, pelo que nunca é a mesma coisa. Também há folhas que estão mais secas e isso também afeta a maneira como trabalho com elas. Primeiro observo o objeto e penso como quero interagir com ele, depois experimento e se não funciona, experimento outra coisa diferente. Quase nunca tenho um plano quando começo a trabalhar e quase sempre vou modificando e ajustando as coisas enquanto trabalho.


Tens alguma recomendação para bordar sobre materiais orgânicos?
Trata-se sobretudo de experimentar e da fina linha que há entre poder fazer o que queres numa estrutura orgânica e a destruir ou estragar.


Obrigada Hillary por nos falares sobre o teu trabalho!

   











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