Entrevistámos Joana Caetano, a artista portuense
criadora da marca Jubela®, que desenha
e cria as suas próprias peças inspiradas no imaginário popular português.
Como e quando começou a bordar? Fale-nos um pouco do seu percurso.
Comecei a bordar, quando aprendi o
bordado tradicional de Guimarães. Foi em 2009 e desde aí nunca mais parei de
bordar. Fiz um workshop de várias sessões com a mestra Maria
do Céu Guia e voltei para fazer aperfeiçoamento de pontos e bainhas abertas.
Fiquei encantada com o potencial do bordado livre e comecei a imaginar a
quantidade de coisas que poderiam ser feitas, nomeadamente em acessórios de
moda, como colares e alfinetes. Na altura não se via ninguém a fazer nada
diferente do designado têxtil-lar e fiquei com vontade de transportar o bordado
para outros universos. Por isso tive de praticar muito e bordar muitas horas
por dia. Entretanto comecei a dar workshops de iniciação e descobri que
ensinar é muito gratificante. Criei as minhas sebentas de pontos com esquemas
de pontos para esse final e desenhos da minha autoria. Li e consultei
muitos livros, dediquei-me a tempo inteiro ao bordado. Já perdi a conta ao
número de pessoas, que aprenderam a bordar comigo e fico muito contente por
perceber que já existe muita gente, que deu os primeiros passos comigo e
se apaixonou por esta técnica.
Quais
são os seus pontos de bordado preferidos?
Não tenho nenhum ponto de bordar que
goste mais, porque gosto de todos, mas o que me deixou mais encantada foi
talvez o ponto de recorte (também chamado caseado, cobertor, festão…) pelas múltiplas
possibilidades que dá ao bordado. É talvez o ponto que consigo fazer de
forma mais perfeita nos corações e nas flores (porque já o fiz vezes sem fim!)
Utiliza
outras técnicas no seu dia-a-dia? Qual a sua favorita?
Não tenho muito tempo para explorar
outras técnicas, mas sei fazer croché desde pequena e sei o básico de tricô.
Gostaria de tricotar mais e melhor, porque gostava de fazer as minhas próprias peças de vestir. Encanta-me esse lado
de fazer coisas num sentido mais útil e poder tricotar as minhas camisolas, vestidos…
Que tipo de
fios utiliza habitualmente e qual o seu preferido?
O fio que mais uso para bordar (e também para ensinar) é o
Perlé nº 8. Aprendi o bordado de Guimarães com esse fio, que é muito macio e
fofo. É um fio que dá relevo, brilho e contraste ao bordado. Mas conforme as
peças e as necessidades, uso de tudo um pouco: o Perlé nº 5, o Mouliné e o BroderSpécial nº 25. Adoro as meadinhas de lã da DMC (lã Colbert) e quero experimentar
fazer mais coisas com elas. Tenho uma coleção enorme de fios, mas acho sempre
que não tenho cores suficientes!
Inspirei-me inicialmente na própria
temática e estilo dos bordados tradicionais como o de Guimarães, o de Viana e o
de Vila Verde (dos lenços de namorados). Acho deliciosa e com enorme
potencial a temática e a história dos lenços de namorados.
Onde
se inspira? Como é o seu processo de trabalho?
A inspiração pode partir dum desenho,
dum tema, de símbolos do bordado tradicional, mas também de músicas ou até de
um ponto de bordar. Por exemplo: quando experimentei o ponto de passajar,
fiquei com vontade de o aplicar num contexto diferente dos remendos. Quando dei
aulas na escola profissional em Barcelos (Modatex), não perdia oportunidade de
ir à feira, que é tão rica em ofícios e peças artesanais e andei a namorar as
cestas. Fiquei a olhar para as cores, a técnica e plim! – Fez-se luz! Era isso
mesmo que ia bordar em ponto de passajar.
Quanto
tempo demora a fazer uma peça?
Costumo dizer que cada peça demora o
tempo que for preciso. A verdade é que depende de peça para peça e depois há os
acabamentos, as fotografias, as embalagens…
Fale-nos
um pouco desta parceria com a Gisela João e da experiência do projeto Caixinha de Música.
A Gisela João é minha amiga desde o
tempo em que eu ainda não sabia bordar. Ela acompanhou a evolução do meu
trabalho e também me deu os seus conselhos e
dicas de bordadeira. Ela já me tinha pedido que fizesse uns pins bordados para
o merchandise dos concertos do CCB e da Casa Música, que foram
um sucesso! Já tínhamos vontade de cruzar as letras e músicas das
suas canções com o bordado dos lenços de
namorados e este convite para dar workshops de bordado no São Luiz foi a
oportunidade ideal. Estou muito contente com este projeto, pois é sempre muito
positivo que mais pessoas experimentem e percebam esta técnica. Este workshop
consiste em bordar um minilenço de amor, em que a temática parte exclusivamente
das letras dos poemas que a Gisela canta. Vai ser diferente, especial e a prova
de que o bordado é tudo menos uma técnica aborrecida!
Quais os seus
projetos para o próximo ano?
Não tenho planos a longo prazo,
porque muitas vezes nem sei o que vou fazer no dia a seguir.
Mas tenho uma série de ideias que
gostava de pôr em práctica, que envolvem peças de vestuário e acessórios. Este
projeto da Jubela está a passar por momentos um bocadinho mais difíceis,
mas sou teimosa e persistente e não o quero abandonar, por isso o início do
próximo ano vai ser com certeza de reflexão e muitas decisões!
Muito obrigada e boa sorte para o futuro,
Jubela! Gostamos muito dos seus trabalhos.
Sem comentários:
Enviar um comentário