sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Entrevista a Richard Saja, transportando o século 18 ao 21 com bordado


Entrevistámos Richard Saja, um artista americano com um trabalho muito original e peculiar. Ele borda sobre tecidos estampados com motivos do século XVIII e transforma as paisagens idílicas e as personagens românticas em palhaços ou homens com cristas. Transporta o século XVIII ao XXI com pontos. Falámos com ele para nos contar como começou e que projetos tem em mente:


Quando começou a bordar e como aprendeu?
Comecei a bordar há 12 anos para ajudar no processo de produção duma linha de almofadas bordadas, que tinha desenhado. Contratei uma bordadeira muito talentosa, que tinha conhecido no metro, mas ela tinha tanto trabalho devido à quantidade de encomendas, que não dava conta. Assim, sem nunca ter bordado, aprendi graças ao livro "Stich Sampler: The Ultimate Visual Dictionary to over 200 Stitches" de Lucinda Ganderton e comecei a bordar. O resultado foi que descobri que gosto de bordar e a desde daí nunca mais parei.


Como começou o projeto “As mulheres vitorianas tornam-se punks”?
Bordei versões de punks desde o início. O movimento punk nasceu quando eu era adolescente e a minha parte criativa estava a florescer, por isso influenciou muito o meu trabalho, tanto a parte estética como o conceito de rebelião. Acabei agora um projeto, onde aprofundei um pouco mais sobre o fim da moda no movimento punk.


Como é o seu processo de trabalho? Planeia o que quer bordar ou simplesmente improvisa e deixa-se levar?
Normalmente sento-me e começo a bordar sem pensar. O meu trabalho é muito impulsivo e espontâneo e para mim é isso que o torna fresco e vivo. Muitas vezes não aceito encomendas, quando acho que os clientes querem algo demasiado específico. Para mim não é interessante realizar ideias de outras pessoas. Há uns anos um designer famoso chamou-me para uma possível colaboração. Disse-me que tinha encontrado umas telas incríveis em Coney Island. O tecido vinha estampado com desenhos dos edifícios de Manhattan com as torres gémeas e queria que eu bordasse dois aviões a embater com muito fogo. Educadamente recusei a encomenda e nunca mais voltei a saber nada dele. Já imaginaram? Que ideias que as pessoas têm...



Borda em tecidos estampados com desenhos do século XVIII. Já experimentou bordar em padrões com desenhos atuais?
Realmente não me interessam muito os estampados modernos. Não é algo histórico ou interessante para mim. Muitas vezes decoro os meus próprios estampados baseados em figuras históricas, como por exemplo este projeto com figuras das idades de ouro do circo e que agora faz parte da coleção permanente de têxteis do Philadelphia Museum of Arts.


Que tipo de linha utiliza?
Há já algum tempo que bordo com a linha DMC Mouliné Satin pela intensidade das suas cores, mas acho que vou voltar à minha linha principal, o Mouliné de algodão 117MC, o clássico para bordar de toda a vida. O Satin é um pouco mais complicado de bordar, mas vale a pena pelas suas cores.


Também uso a linha Mouliné Efeitos Luminosos E940 de cor branca, que brilha no escuro, desde sempre. Atualmente estou a trabalhar num autorretrato, no qual estou representado como um yeti em tamanho maior que o real e utilizo esta linha. Normalmente combino com outras linhas, assim a peça tem um pequeno segredo, que só se pode ver quando as luzes se apagam. Há uma peça no Museu de Belas Artes de Boston, que brilha no escuro, mas muita pouca gente o sabe!




Qual é o seu ponto de bordado favorito?


Definitivamente o meu ponto favorito é o ponto de nó, também apelidado de nó francês. Adoro-o porque é muito simples, mas pode-se fazer muitas coisas com ele. Também o uso para as minhas peças em braille e para o meu trabalho figurativo e nunca me canso de o fazer.

Qual é a maior peça que já bordou?
Há uns anos fiz uma peça para uma exposição no Museu Judaico de Filadélfia. A peça mede 20 cm por 3 metros e trata-se de milhares de pontos de nó com um poema em braille composto por mim. Acho que é um dos meus projetos pessoais com mais êxito e estou contente por ter corrido bem, porque trabalhei tanto nele, que a seguir tive uma lesão, da qual levei ano e meio a recuperar! Pode vê-la aqui.


Já tentou bordar com outros materiais?
Claro! Já bordei com fio dental, cabo industrial ou linha para assados. E agora estou a tentar bordar com crina de cavalo para bordar cavalos para uma exposição em Novembro na Webb Gallery do Texas.


Existe alguma outra técnica que gostasse de experimentar?
Não, estou muito feliz e satisfeito com o que faço agora. Os meus conhecimentos e técnica vão melhorando, vão aparecendo novos desafios e a minha obra continua a evoluir. Prá frente!


Prá frente Richard, tudo o que planear pode bordar!

Se quiser ver o seu trabalho, visite o seu blogue.

2 comentários:

  1. Parabéns...gosto dessas entrevistas em que conhecemos pessoas que como nós, simples mortais, também gostam de bordar e dar asas à imaginação...
    vou agora conhecer
    um pouco mais desse senhor...

    abraços de Maria Filomena

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  2. Que engraçado, também faço disto com Toile de Jouy.

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